02 abril 2008

Cultura em orcas

Desta vez deixo-vos um trabalho que fiz e que me deu muito gozo fazer, espero que gostem.... ;)


O termo cultura tem a si associado vários sentidos. Segundo Galef (in Whiten, 2000) e Imanishi (in de Waal, 1999) a cultura nos humanos baseia-se na transmissão não-genética e partilha intencional de informação, através de sofisticados processos de aprendizagem social, nos quais se incluem a imitação e o ensino. Estes aspectos culturais são disseminados ao longo de grandes períodos de tempo e espaço, graças à linguagem, e sofrem durante esses períodos modificações cumulativas, que levam a uma evolução da cultura (Boesch & Tomasello, 1998). No caso dos animais, pensa-se que a transmissão de informação não ocorra através de mecanismos tão complexos, tratando-se por esta razão um mecanismo análogo, e não homólogo, à cultura nos animais. Muitos investigadores propõe assim ser mais adequado a utilização do termo tradição para referir a transmissão de conhecimentos nos animais (de Wall, 1999; Whiten, 2000). Porém, no presente trabalho, ir-se-á utilizar a definição de cultura segundo Rendell & Whitehead (2001b): partilha de informação ou comportamento por uma população ou subpopulação que é adquirida a partir dos seus coespecíficos por alguma forma de aprendizagem social, que está altamente associada ao meio e à estrutura social (de Wall & Tyack, 2003). É ainda importante considerar outros aspectos presentes na cultura, como mecanismos de transmissão, o tipo (vocais, materiais ou sociais), e os padrões de transmissão (vertical – entre geraçoes; ou horizontal – dentro das gerações), a estabilidade, evolução, adaptabilidade, o nível de similaridades culturais (grupo, subpopulação, área geográfica) e a quantidade de conformidade. Segundo esta perspectiva, é pois possível encontrar cultura em animais. Os elementos básicos da cultura em animais são a aprendizagem social (conhecimentos, vocalizações, etc.) e a utilização de instrumentos, que é transmitida, essencialmente, através da observação ou imitação dos coespecíficos. Estes comportamentos conferem um claro valor adaptativo, e a sua persistência é fundamental para a sobrevivência de populações viáveis (Laiolo & Jovani, 2006; Laland & Janik, 2006).
Estudos recentes têm-se debruçado sobre a cultura em animais, nomeadamente em primatas e cetáceos. Abordam as diferenças espaciais no comportamento e revelam um mosaico de fenótipos comportamentais dentro das espécies (Laland & Janik, 2006), tentando determinar se existe variação cultural por exclusão da aprendizagem asocial, ecológica ou factores genéticos. Existem evidências de que o comportamento de alguns cetáceos é determinado culturalmente. Para o estabelecer, é necessário excluir que a conformidade observada e a variação comportamental são produzidas por variação genética ou por aprendizagem individual em diferentes condições ecológicas. Três padrões gerais de comportamento têm sido utilizados para indicar cultura nos cetáceos: similaridade progenitora-cria, rápida dispersão de novas variantes comportamentais, e conformidade no grupo (de Wall &Tyack, 2003).
A aprendizagem social nos cetáceos foi detectada antes de terem início os estudos sobre cultura. Muitos destes estudos debruçam-se sobre o domínio das vocalizações. Chamamentos e canções são mais facilmente reconhecidos como uma forma de aprendizagem social, visto que sinais de comunicação apenas podem ser transmitidos de um indivíduo para o outro (de Wall &Tyack, 2003). Porém, outros domínios de aprendizagem social têm sido focados, particularmente especializações de “
foranging”e tradições migratórias. Dentro do grupo dos cetáceos, as orcas parecem satisfazer a maioria das condições para a existência de cultura, tendo sido documentadas numerosas diferenças regionais em alguns comportamentos, atribuídos à aprendizagem social, e por tal relativos a variações culturais ou tradicionais. Um desses comportamentos é o de arrojamento em orcas (Orcinus orca), durante o “foraging”(Laland & Janik, 2006) (Fig.1).

Figura 1. Comportamento de arrojamento por uma orca na praia de Punta Norte, Argentina (A).

Este comportamento foi descrito por Guinet (1991 in de Wall &Tyack, 2003) para as orcas que se alimentam de mamíferos do Arquipélago de Crozet e de Punta Norte na Argentina, como um “instrumento” na caça de leões marinhos. Contudo, as populações de orcas que alimentam de mamíferos do nordeste do Pacífico apresentam diferentes estratégias de caça, perseguindo as suas presas principalmente na água. Esta diferença de estratégias de “foraging” pode dever-se ao facto dos leões marinhos permanecerem em praias que permitem o arrojamento nas Ilhas Crozet, enquanto que no nordeste do Pacífico preferirem zonas rochosas. Mas será que o comportamento de arrojamento intencional é aprendido, e passado às gerações seguintes por ensino e imitação?
Guinet e Bouvier (1995 in de Wall &Tyack, 2003) descreveram um número de eventos onde duas orcas juvenis praticavam o comportamento de arrojamento intencional em conjunto com a sua progenitora ou outro adulto fêmea do grupo. Durante estes eventos foi também possível observar uma fêmea a empurrar a sua cria para a praia, presumivelmente para ensiná-la a caçar leões marinhos. Estes eventos são exemplos impressionantes da aprendizagem social em orcas, mas não são suficientes para ser designados de culturais, uma vez que são poucas as evidências de que estes comportamentos se disseminam por outras orcas do mesmo grupo. Isto não indica que este comportamento não seja transmitido por imitação (de Wall &Tyack, 2003). Afinal de contas, é obvio que o arrojamento intencional é perigoso e pode por em perigo a vida do animal, alguns animais podem não correr este risco, e talvez fácil a aprendizagem deste comportamento enquanto juvenis. Para afirmar com certeza que o arrojamento intencional, utilizado como estratégia de “foraging”, é determinado culturalmente seria necessário observar que os juvenis foram ensinados a utilizar esta estratégia e que a transmitem, posteriormente, às suas crias(de Wall &Tyack, 2003) .
Além das estratégias de “foraging”, também as vocalizações na população de orcas residentes do nordeste do Pacífico são passíveis de serem determinadas culturalmente. Esta população vive em grupos estáveis, grupos matrilineares, que consistem de uma fêmea (matriarca) e os seus descendentes, machos e fêmeas (até quatro gerações). Estes indivíduos comunicam entre si através de dialectos específicos ao grupo em que estão inseridos. Verificou-se a existência da partilha de padrões de vocalizações entre grupos matrilineares, parecendo estes padrões reflectir um grau de parentesco entre si (de Wall &Tyack, 2003). A questão que se coloca é se o padrão de partilha das vocalizações é resultado de aprendizagem social ou se é apenas o resultado passivo do processo de separação de grupos, e por isso se podem ou não ser considerados culturais?
Ford (1991 in de Wall &Tyack, 2003) verificou que alguns grupos de orcas residentes, da Colômbia Inglesa e do sul do Alasca, partilham parte dos reportórios de vocalizações, formando, deste modo, “grupos” acústicos, com base nas similaridades das vocalizações, sendo designados de “clãs”. Os clãs parecem reflectir linhagens de vocalizações de grupos matrilineares relacionados, podendo a manutenção das vocalizações ser considerada como uma tradição vocal caso fosse demonstrado que as vocalizações são aprendidas dentro do grupo matrilinear (de Wall &Tyack, 2003). Um pequeno número de observações suportam a noção de aprendizagem a partir de inferências feitas com base em similaridades de vocalizações entre parentes maternais, fazendo da aprendizagem vocal dentro do grupo matrilinear a melhor explicação para a partilha de padrões de vocalizações observados. Foram também observadas imitações de vocalizações em cativeiro por orcas com diferentes ancestrais regionais, e no seu habitat natural Ford (1991 in de Wall &Tyack, 2003) registou o mesmo fenómeno. Também Deecke e os seu colegas (2000 in de Wall &Tyack, 2003) documentaram a transmissão horizontal e oblíqua de características estruturais de vocalizações entre parentes próximos inseridos em diferentes linhas matriarcais . Todas estas observações fazem das vocalizações um comportamento que poderá ser determinado culturalmente.
Para além dos comportamentos mencionados existem outros que também são possíveis candidatos a comportamentos determinados culturalmente, como a “cerimónia de boas vindas” da população de orcas do sul do Alasca (Osborne, 1986 in de Wall &Tyack, 2003), ou a técnica de “captura em carrossel”de arenques na população de orcas do norte da Noruega (Simila & Ugarte, 1993 in de Wall &Tyack, 2003), entre
outros, mas que necessitam de um estudo mais aprofundando para que possam ser feitas tais inferências.




Referências bibliográficas:

Boesch, C. & Tomasello, M. 1998. “Chimpanzee and Human Cultures”. 
Current Anthropology 39 (5): 591.

de Waal, F.B.M. 1999. “Cultural primatology comes of age”. Nature 399, 635-636

de Wall, F.B.M. & Tyack, P.L. 2003. “Animal social complexity: intellegence, culture, and individualized societies”. Harvard University Press. London. England. 616 pp.

Quiatt, D. & Reynolds, V. 1993. “Primate behaviour: information, social knowledge, and the evolution of culture”. Cambrigde University Press. Great Britain. 322pp.

Krützen, M, Mann, J, Heithaus, M.R., Connor, R.C., Bejder, L. & Sherwin, W.B. 2005. “Cultural transmission of tool use in bottlenose dolphins”. PNAS 102 (25): 8939-8943.

Laiolo, P. & Jovani, R. 2006. “The emergence of animal cultural conservation”. TRENDS in Ecology and Evolution 22 (1): 5.

Laland, K.N. & Janik, V. M. 2006. “The animal cultures debate”. TRENDS in Ecology and Evolution 21(10): 542-547.

Marcoux, M., Rendell, L. & Whitehead, H. 2007. “Indications of fitness differences among vocal clans of sperm whales”. Behav Ecol Sociobiol 61:1093–1098.

Perry, S.E. 2006. “What Cultural Primatology Can Tell Anthropologists about the Evolution of Culture”. Annu. Rev. Anthropol. 35:171–90

Ramsey, G., Bastian, M. L. & van Schalk, C. 2007. “Animal innovation defined and operationalized”. Behavoiral and Brain Sciences 30: 393-437.

Whitehead, H. 2005. “Genetic Diversity in the matrilineal whales: models of cultural hitchhiking and group-specific non-heritable demographic variation”. Marine Mammal Science 21(1): 58-79.

Whiten, A. 2000. “Primate culture and social learning”. Cognitive Science 24(3): 477-508.

A.
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bjokinhas à moda tradicional... ;P

11 comentários:

Anónimo disse...

NERD... (mas eu gosto de ti à mesma!!)

Anusca.

Caius disse...

Que felicidade Lena... fez um trabalho sobre os peixes assassinos, né?

Que legal...

Caius disse...

Brincadeiras à parte, achei bem interessante o seu texto, apesar de ter um entendimento diverso do termo cultura.

Não acredito ser possivel de prova (ao menos usando a inteligência humana no sentido que temos agora) nenhum sistema cultural animal, se é que o mesmo existe.

Examinando a cultura do outro ser baseado na nossa, podemos achar (ou não achar) evidências aceitáveis e pensar (ou não pensar) numa visão de cultura baseada apenas no que nós temos como tal.

Tendo então a nossa visão humana e limitada como base, não acredito que a transmissão de mero enorajamento para uma praia possa ser, de modo algum, entendido como cultura assim como vocalizações que podem ser, ou não, linguagem complexa. Entendo eu, como cultura, sendo um padrão de atividade visto por um grupo de indivíduos com importância simbólica. Deste modo, que importância sibolica teria, por exemplo, encorajamento à caça? Isso seria meramente um instrumento da espécie de manter a sua sobrevivência. Se víssemos uma orca (nossos amigos cetácios) aprendendo a jogar pedras em pássaros, transmitindo isso aos demais e eles aprimorando a técnica de pedradas com o passar do tempo, e, quem sabe, num futuro distante, a reunião das orças para um campeonato de pedradas em pássaros, teríamos oque eu entendo como transmissão cultural aceitável e passível de prova.

De todo jeito é um texto muito bom, achei bem interessante e acho excelente poder falar algo mais sério do que as besteiras de sempre.

Beijos!

Andre disse...

ta no mar é peixe, baleia orca nao é golfinho ... é peixe!

Definir cultura é por si so dificil.
definir a cultura de outro povoado, origens justificativas e tendencias ja é uma dificuldade, imagina em outra especia, ainda mais sendo os cetaceos relativamente distantes taxonomicamente, e interagindo em um meio onde nao fomos feitos pra existir, o mar.

é dificil, mas nimguem disse que ia ser facil.

e Cabral que achava que os peixes boi eram sereias!

Inês Rosa disse...

Oh possas, estou muita cansadita para ler agora o trabalho...

Mil beijicos

Unknown disse...

Esse trabalho soa-me familiar :P

Será pq tive a ver se os hiperlinks funcionavam?!lololololol

Olha lá...colocar um trabalho q fizeste no blog?!

POUPA-ME sua trenga!!!!!!!!!!!!!!!

Beijinho cheio cheio de saudades!

PS:Vou-te ligar este fds p te contar as novidades tds;)

Jose disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jose disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jose disse...

Ten-se que ter cuidado ao afirmar que a definição de cultura com base no que entendemos seja problemático do que se passa nos animais por conta da sua importância simbólica, mais especificamente por conta da mente simbólica que é natural da nossa espécie, pois pode ter o mesmo significado que uma ficticia ave venha a afirmar ser diferente do que elas entendem por locomover-se tendo como referencia suas asas.

O processo de avanço cultural em Orcinus orca e Tursiops truncatus(Golfinhos nariz de garrafa) já vem sendo bem documentado. Como o carrocel em cardumes de peixes que alguns pods de orcas passaram além de cercar os peixes, passaram a dar uma "rabada" no cardume para atordoa-los e assim ser fácil pegar-los. Há uma hipótese de como esse grupo de orcas que fazem o arrojamento desenvolveram essa técnica que diz que ela veio de outro costume alimentar dos antepassados desse grupo que caçavam os pinipedes(focas, leões marinhos, elefantes marinhos...) próximo as praias e esse habito foi se aperfeiçoando até um indivíduo descobrir um caminho que chegue fácil a praia e desenvolver a técnica de arrojamento. Nas ilhas malvinas há uma orca femea de um grupo de 9 indivíduos que descobriu um canal no meio do recife que leva até a "Escola de nado" dos elefantes marinhos infantos-jovens, e chega até a piscina sorrateiramente para planejar um ataque. Ela vai sempre com o filhote.
Brincadeiras e jogos também são aprendidos e bem explorados. Há até um relato sensacional do Paulo Cesar Simões em que um grupo de 30 individuos de T. truncatus em que ele estava pesquisando, os golfinhos estavam cercando um cardume para abate-los quando um iate passou em alta velocidade formando uma seqüencia de ondas. Os 30 golfinhos do grupo LARGARAM as sardinhas e deixaram-na se dispersarem para irem surfar nas ondas, quando acabou as ondas, os golfinhos voltaram para o recife onde estavam e começaram tudo novamente, cercando o cardume...

E a já documentada brincadeira que alguns grupos de T. truncatus fazem realizando um "jogo de futebol" comm um filete de alga, e as orcas caçadoras de pinipedes que jogam as suas presas uma para outra. É verdade que tais brincadeiras tem importância na socialização do grupo, mas assim como também os jogos e brincadeiras humanas tem a mesma importância. Assim como em chimpanzés, Bonobos, Orcas e Golfinhos nariz de garrafa fazem nesses jogos suas alianças e medem suas forças e reforçam suas posições hierarquicas, as brincadeiras e jogos humanos também tem o mesmo fenomeno, um jogo de futebol nada mais é do que medição de habilidades e valores(bom ou ruim, habilidoso ou perna de pau...) e reforçando o apego dos demais companheiros(e espectadores) por esses indivíduos.

Jose disse...

Porém, Entendo que a cultura humana envolve o simbolismo, a mente simbolica cria uma representação do mundo a sua volta. E isso resulta que o valor do jogador em um jogo de futebol é na verdade o valor simbólico do time de futebol que ele apresenta, sendo assim ele pode ser admirado ou odiado. Ou pode ser o valor do simbolo de qualidade de futebol que ele apresenta, sendo assim os que gostam de jogador habilidoso vai se afeiçoar a um jogador habilidoso, enquanto outro que prefira um jogador técnico vai odiar esse jogador. Mas isso não é base para afirmar que outros animais não possuem cultura, mas que nossa cultura é apropriado com a nossa natureza, natureza simbólica. Mas há elementos que são a base para que haja uma cultura, de nada adiantaria ter uma mente simbólica se a nossa espécie não tivesse a consciência da importãncia do que o outro faz para nós e mais, a importância do que nós fazemos para os outros, que seja importante passar para os outros. Macacos-pregos, Chimpanzés, Bonobos, Orangotangos, gorilas, Cetáceos, Corvos, Psitacideos(arara zul) tem a consciencia do que é importante nos outros pra eles, mas os chimpanzés, Bonobos, Orangotangos, Golfinho nariz de Garrafa e Orcas (e talvez os corvos) tem a consciência do que é importante para nós que seja importante passar para os outros. O genero Pan (Pan troglodytes - chimpannzé e o Pan paniscus - bonobo), Orangotango(Pongo pigmeu), Orca e T. truncatus ensinam intencionalmente suas técnicas pras suas proles, realizando falsas tentativas das técnicas que pretendem ensinar sem que haja o resultado, mais lentas e repetidas vezes a frente de seus filhotes, chegando mesmo a corrigi-los. As Orcas do arrojamento encalham e desencalham ao lado dos seus filhotes sem que haja foca alguma na praia, e os proibe de saírem do raso. Já foi visto golfinhos nariz de garrafa corrigindo e reforçando certas técnicas de caça...

Jose disse...

Mas falando nos quesitos básicos para que haja uma cultura, eu diria que sim, até os pregos, os corvos, possuem cultura, pois o comportamento que não é instintivo e sim adquirido é passado de geração após geração por meio da curiosidade dos jovens pelo comportamento do outro e pela consciencia de sua importância na obtenção de alimento. O Eduardo Ottoni em um artigo relata que um indivíduo de seu grupo de estudo aprendeu a técnica do "martelo e bigorna" mas não a utilizava, preferindo comer os restos de côco que caiam quando os outros quando esses forragiavam utilizando a técnica. O indivíduo só utilizava-se da técnica quando não havia outro indivíduo quebrando côco e quando não havia restos algum para se alimentar.

Há, soube também de um caso presenciado por outro pesquisador de cetáceos que fora de uma mãe orca que ensinava seus dois filhos, sendo que um dos filhos era extremamente dedicado e outro era "desleixado" quanto a tarefa, quando adultos, o dedicado tinha quase 100% de aproveitamento É plausível que esse mesmo indivíduo desinteressado caso nascesse em um grupo que tivesse outra tradição com outras técnicas de captura fosse dedicado no aprendizado da técnica.

Mas mesmo assim obviamente a cultura pela mente simbólica, por meio de símbolos, é bem diferente, assim como a cultura dos cetáceos é diferente dos primatas e a cultura de uma espécie de primata é diferente de outra espécie. Mas só podemos analisar as culturas sobre o prisma de cultura que conhecemos (como bem diz o comentário do Caiu), logo todo esse fenômeno de transmissão de conhecimentos, no homem se difere na transmissão simbólica do conhecimento, onde o valor do conhecimento é dependente do apego, valor, credulidade, perspectiva, do seu simbolismo. Não é só o ato de produzir uma flecha que é transmitido, na verdade é o símbolo da flecha, o símbolo do hábito de produção dela. Uma flecha pode ser feita de diversas maneiras por diversas culturas humanas, todas tendo o mesmo resultado, a mesma eficiência, diferenciando-se pelo valor que a forma de produzi-la tem pra cada cultura. A ciência nada mais é do que uma forma de estudar como "produzir uma flecha", valorizado pela cultura ocidental positivista, e que é incorporado esse valor nas flechas produzidas pelos meios desenvolvidos pelo método científico.