06 setembro 2007


Ode ao Gato

"Os animais foram
inacabados,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco foram-se
formando,
fazendo-se paisagem,
adquirindo sinais, graça,
vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe
e pássaro, a serpente quisera ter
asas, o cão é um leão confuso,
o engenheiro quer ser
poeta,
a mosca estuda para
andorinha, o poeta trata de imitar
a mosca,
mas o gato
uer ser somente gato
e todo o gato é gato
desde o bigode ao rabo,
desde pressentimento a
ratazana viva, desde a noite escura até
aos seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor tal contextura:
é uma coisa única
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu
contorno
é firme e subtil
como a linha da proa de uma
nave.
Seus olhos amarelos
deixaram uma única ranhura
para lançar as moedas da
noite.

Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão,
nupcial
sultão do céu,
das telhas eróticas,
o vento do amor
na tempestade
reclamas
quando passas e pousas
quatro pés delicados no chão,
cheirando,
desconfiando
de tudo o que é terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do
gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, gimnástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
das habitações,
insígnia
de um
veludo já desaparecido,
certamente não há
enigma nesse teu modo,
não és talvez mistério,
todo o mundo te conhece
e tu pertences
ao habitante menos
misterioso,
talvez todos o creiam,
todos se creiam donos,
proprietários, tios,
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.

Eu não.
Eu não concordo.
Eu não conheço o gato.
Eu tudo sei, a vida e seu
arquipélago,
o mar e a cidade
incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus
extravios,
o por e o menos da
matemática,
as depressões vulcânicas
do mundo,
a pele irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do
bombeiro,
o atavismo azul do
sacerdote,
mas não posso decifrar
um gato.
Minha razão resvalou na
sua indiferença,
têm seus olhos números
de ouro. "

Pablo Neruda In "Assinar a Pele" (antologia de poesia contemporâneasobre gatos)

Bjokinhas gatescas!!! ;)

5 comentários:

Anónimo disse...

Lenita... desculpa ser por aqui a avisar... mas PASSEI NA POLICIA.

AWAY

Anónimo disse...

MIAU

Unknown disse...

O teu Strauss td refestelado na cadeira...aposto q tava a apanhar uns banhitos de sol! Ah poix! lolol

Bela vida a dos gatos, bem vejo pelos meus...aiaiaiai!;)

Bejinho gande gande gaja linda!:*

Caius disse...

De Acordo com Ambrose Bierce em seu "Dicionario do Diabo"

"Gato: Um autômato flexível e indestrutível, fornecido pela natureza para ser chutado quando as coisas vão mal no círculo doméstico."

wise up disse...

é que nem pensar... o meu gatinho é para ser muito bem tratado!!!
com muitos miminhos...